Entrevista com o Reitor Nicácio

O Reitor Cícero Nicácio do Nascimento Lopes está há um ano à frente do IFPB – Instituto Federal de Educação da Paraíba -, que passa por um momento de expansão sem precedentes em sua existência centenária. Com vários Campi em implantação, oferta de novos cursos e realização de concurso público para admissão de novos servidores, o Instituto se renova para atender à grande demanda por educação do País. A entrevista a seguir revela os principais desafios neste primeiro ano de gestão.

PORTAL – As dificuldades atuais do País tem afetado a Educação?

Sim. Atualmente, o País enfrenta uma conjuntura adversa, mas nós encaramos essa adversidade como uma contingência, como uma circunstância. É um momento desafiador, e por isso deve instigar a capacidade de enfrentamento das pessoas. No caso do IFPB, esse enfrentamento é benéfico para a Instituição à medida em que demonstra a grande capacidade de reação que a Instituição apresentou em outros períodos de sua história, tão ou mais complicados do que esse atual, ao longo desses mais de cem anos. Em outras períodos, a Instituição soube atravessar esses mares revoltos.

PORTAL - Apesar das restrições orçamentárias, impostas pelas restrições econômicas do momento, a educação continua sendo priorizada no País?

Continua. Sem dúvida, nós avançamos muito na última década. Houve um incremento sem precedentes. Na educação profissionalizante, o País tinha 140 unidades em todo território nacional e somos hoje 562 unidades. Todos os Estados estão sendo contemplados. A Paraíba passou de 3 para 21 unidades. Hoje nós temos mais de 20 mil estudantes situados em várias modalidades. As unidades se propagam em todas as regiões, interiorizando-se. A última década modificou de forma profunda o desenho da educação profissionalizante no País. A qualidade da escola hoje é outra.

PORTAL – Apesar da melhora, o País enfrenta um certo descontentamento popular.

Felizmente, o País tem avançado em termos de politização, a sociedade brasileira está mais atenta a seus direitos, mais esclarecida. É preciso que os educadores estejam além do seu tempo e compreendam este momento. Compreendam que é mais do que imperioso que nós estejamos com a nossa postura coadunada com os clamores populares. Não há lugar para o egocentrismo de qualquer classe trabalhadora, e refiro-me particularmente à nossa, a classe trabalhadora dos educadores. Nós não podemos nos fechar egocentricamente nas nossas aspirações individuais, instigar a cristalização de nossos direitos, perdendo de vista esse plano coletivo. Nós temos que perceber que deve haver um protagonismo desse plano coletivo.

PORTAL – Nesse cenário, qual o papel de cada um?

A sociedade aguarda de todos nós, gestores, educadores, de toda a comunidade, resultados práticos, resolutividade. Se nós temos poucos recursos, vamos otimizar a aplicação desses recursos. O que nós não podemos é ter pouca motivação. Não devemos nos ajoelhar diante das crises. Este deve ser o posicionamento de todos nós. Principalmente, na perspectiva dos educadores. Nós temos que demonstrar para nossos educandos a nossa capacidade de superação. O Brasil é rico em superação, o nosso povo tem uma capacidade empreendedora, de grande criatividade. É um povo alegre, feliz, otimista. Um otimismo crível, pé no chão. Nós precisamos mais do que nunca evidenciar esse traço. Precisamos de confiança no futuro e motivação para vencer as dificuldades.

PORTAL – A educação é um caminho para vencer as crises?

Sem dúvida. Através da educação, nós criamos indutores reflexivos para nossos educandos. Nossos professores problematizam os fenômenos sociais, na lógica de instigar nossos alunos a terem essa sensibilidade, de terem um posicionamento analítico, baseado no cientificismo, mas também queremos forjar estudantes que não percam nunca a capacidade de acreditar no futuro do nosso País.

PORTAL – Quais os principais desafios na educação de um País ainda em pleno desenvolvimento?

É preciso pensar na sociedade. Nós, trabalhadores da educação, não podemos pensar apenas em prerrogativas individuais, ficar restritos à nossa zona de conforto. Nós precisamos ter um olhar mais voltado para o plano coletivo. Nossa Instituição é patrocinada por muitos brasileiros, sobretudo os mais humildes, os desvalidos e desafortunados, que histórica e paradoxalmente, bancam a nossa instituição com muito sacrifício e, ao mesmo tempo, estão à margem do processo. A primeira revolução que temos que fazer é a nossa revolução interna. A partir dela, nós precisamos colocar em um plano de prevalência esse coletivo, que sofre muito. Essa revolução interna na nossa percepção é a grande alavanca que deve impulsionar a revolução social, em termos de educação, com a qual enfrentaremos esse grande desafio.

PORTAL – Quem é o Reitor Nicácio e por que ele se decidiu por trabalhar com educação?

O professor Nicácio é um homem de origem humilde, cujo grande herói foi seu pai, um lavrador, que acreditou na educação. Ele dizia “tenho fé em Deus que um dia a enxada de meus filhos será uma caneta”. Eu acredito que nós temos que fazer uma opção pelos mais humildes. Acho que temos que manter esse foco, pois o nosso País tem uma dívida social muito grande a resgatar. No meu reitorado, eu gostaria que o Instituto abrisse suas portas aos jovens, que o menino simples não se sinta acanhado diante do Instituto, pensando que está num outro mundo. Nós queremos que os meninos e meninas humildes se apropriem do nosso patrimônio, que eles se sintam em casa. E que olhem para nossa instituição e sintam que o IFPB lhes pertence, que pode mudar suas vidas. Se nós conseguirmos promover essa sensação em nossa comunidade, eu terei cumprido minha missão.